O texto de Hannah Arendt nos brinda com reflexões que se fazem pertinentes no momento atual, mesmo sendo escrito em 1957.
Percebemos que o micro se reflete no macro e o contrário também. A crise como a oportunidade de reflexões sobre o que necessita de mudança e o que é aconselhável conservar.
A América, terra de imigrantes, se mostrou aberta a novos ideais de educação, mas, não se pode descartar que novas gerações crescem no interior de um mundo velho, reflexões que ela nos traz com clareza. O conceito de igualdade dos americanos vem revolucionar o ensino, pois, na Europa, o o à educação secundária se efetivava através de prova, talentos, oligarquias ou aristocracias… o ensino público americano se estende até os dezesseis anos, onde o direito à educação é um direito civil inalienável.
No entanto, nivelar novos e velhos, alunos e professores, dotados e não dotados, torna a educação simplista, reducionista. E, cada etapa de vida possui suas fases de desenvolvimento. Por exemplo, no sentido de proporcionarmos melhores condições de desenvolvimento, de aprendizagem.A primeira infância (0-6 anos) se caracteriza pela abertura e absorção para aprender coisas, onde os estímulos impactam na estrutura cerebral.
No primeiro ano de vida o desenvolvimento afetivo, a interação com os membros da família, a nutrição, são muito importantes, a exploração de novos estímulos que atuam no desenvolvimento do cérebro, criando sinapses. No segundo ano, o ganho de palavras triplica e percebemos a intenção de falar. Aos três anos, já começa a exercer um controle sobre suas ações. Aos quatro, já começa a se socializar, as rotinas começam a ser internalizadas.
Entre os três e cinco anos, vivencia-se a etapa negativista: do não, do eu, do meu. A criança vai construindo sua autonomia, mas a por conflitos com as pessoas do seu convívio. Utilizar de firmeza e gentileza é um recurso eficiente, abordado pela Psicologia Positiva. Segundo Jane Nelson: “aos métodos autoritários, geralmente falta gentileza e aos métodos permissivos, falta firmeza”.
Neste período, encorajar o banhar-se e o vestir-se. Deixar a criança participar de rotinas da casa (respeitando-se o seu desenvolvimento), colaborando no ambiente onde mora.
Aos seis, sete anos, geralmente surge a assimilação dos símbolos, onde a criança descobre as palavras, começa a ler. O incentivo se faz primordial e o cuidado para deixar a criança se expressar, repetir, sem ser interrompida em suas expressões verbais. O contato social se solidifica e nos acompanha por toda a vida.
Alguns aspectos são importantes desde cedo como, por exemplo,, a criança nomear as suas emoções, desenvolver o autocontrole, equalizar os estados emocionais perturbadores, ser encorajada para o desenvolvimento de suas forças pessoais, cultivar a sua espiritualidade, brincar, ser estimulada à autoeficácia com tarefas condizentes com sua capacidade.
Ao final do dia, relatar os fatos ocorridos aos pais, ter gratidão pelas experiências que lhe ajudarão a crescer, se recuperar de situações desagradáveis, fortalecendo o otimismo e o encorajamento das forças de caráter.
Na infância e na adolescência, é imprescindível sentir-se conectado, pertencente à família, a uma história, a um país, cidade, comunidade. Separar um tempo especial para criar memórias afetivas, edificantes e que agreguem valor aos filhos.
Embora tenhamos as etapas de desenvolvimento físico, cognitivo e psicoemocionais, sabemos que as circunstâncias, o ambiente influenciam nos processos de aprendizagem e cada ser possui suas peculiaridades.
Em seus conceitos, Hannah Arendt nos apresenta 3 ideias base, catastróficas, que ocorreram na educação:
– Um mundo da criança: como seres autônomos, que se devem governar por si próprias. Toma a criança como grupo e não a criança como indivíduo.
– O ensino negligenciado, com perda da autoridade do professor.
Entra nesta ótica o papel do professor como capaz de ensinar qualquer coisa, um ensino que se desliga da matéria em si, do que é aprender.
– O aprender pelo fazer, com o surgimento dos institutos profissionalizantes, pós-guerra. Há uma restrição no aprofundamento do processo de aprendizagem e a exclusão da criança do seu mundo, onde o jogo, o brincar é trocado pelo trabalho.
Ora, a criança precisa do lúdico, onde vários aspectos como criatividade, atenção, imaginação se desenvolvem. Ela se encontra em formação e necessita de seu mundo privado, que lhe proporcione segurança e intimidade.
O que podemos aprender com esta crise na educação? Hannah Arendt nos coloca que podemos aprender com os nossos erros o que não se deve fazer, em refletirmos sobre o papel que a educação exerce nas civilizações, da obrigação que a existência de crianças coloca a todas as sociedades humanas.
Os pais dão a vida e, ao mesmo tempo, a introduzem no mundo. Um mundo já existente. A criança necessita de viver e crescer num ambiente que priorize o seu amadurecimento, ela necessita de seu mundo privado de segurança e intimidade. Hannah Arendt relata o quanto sofrem os filhos de celebridades, com suas privacidades invadidas pelas mídias.
No processo de emancipação do mundo, vemos o direito da mulher e dos trabalhadores de terem o seu lugar, de ver o mundo público e nele, serem vistos. Mas, devemos nos lembrar do direito da criança de viver e crescer com segurança.
O professor, os pais, os cuidadores como mediadores entre o antigo e o novo. A convivência com os pais, a família, a escola, comunidade permitem às crianças e adolescentes o desenvolvimento de habilidades de vida, que incluem respeito e dignidade, incentivo, conexão de fraternidade, amor, conscientização emocional e resolução de problemas .
Ela cita Políbio, historiador grego que diz: “educar é permitir a alguém ser digno dos seus anteados.”
Na introdução do livro: Introdução ao Conhecimento Logosófico, o autor afirma que “Conseguir que as gerações futuras sejam mais felizes que a nossas será o prêmio maior a que possamos aspirar”.
Na civilização romana, a fase idosa era considerada o período de vida de maior realização humana.
Faz-se mister tratar a criança como criança, aproximá-la com o mundo da comunidade dos adultos, mas, antes de tudo, amá-las, não as deixando entregues a si próprias, sem limites no uso das tecnologias, como TV, tablets, vídeo games, computadores…
Desenvolver suas forças pessoais, incentivar a criatividade, proteger o novo, mas, respeitar o que veio antes. ar as virtudes, que são universais!
Permitir à criança a convivência com os pais, a família. A família é o ambiente natural e fundamental para o desenvolvimento de seus membros, onde a criança, o jovem aprendem os valores pessoais e universais, sobre comportamentos diante de situações desafiadoras, a ver o erro como oportunidade de aprendizado, a vivenciarem a reconciliação.
Hannah Arendt nos alerta, em seu texto, a respeito da questão “que implica que a perda da autoridade que se desencadeou na esfera política não alastre para a vida privada”.
O ser humano necessita dos momentos de escuridão, de estar no seu quarto, no seu canto, onde a sombra se manifesta, onde há o diálogo consigo mesmo. A sombra nos faz humanos, segundo Jung, um dos maiores trabalhos no processo de individuação, que consiste no desenvolvimento da personalidade total, é, sem dúvida, a integração da sombra na consciência. Conhecer-se a si mesmo e o significado da vida.
A criança necessita de sua privacidade, de rotina para desenvolvimento de hábitos, de estar no seu cantinho, para refletir, pensar…
Desenvolver a educação integral, fazer o possível, sem renegar o ado, trabalhando no presente, para um futuro com maior consciência.
Para o educador, percebemos o quanto é difícil estabelecer a mediação entre o antigo e o novo. Mas, não só os educadores, professores, como todos nós, valorizarmos a natureza, valorizarmos as tradições, incentivar o novo.
Trazer a escola para a função de ensinar às crianças o que o mundo é, não tratá-las como adultas mas, permitir o o à comunidade dos adultos, com suas regras e leis de convivência e atuação.
Ensino e educação, vindo juntos, com desenvolvimento de habilidades e forças pessoais, espiritualidade.
Está nas mãos dos adultos, pais, professores, cidadãos prepararem a criança para o porvir…
Afinal, o efeito borboleta demonstra que o simples balançar das asas de uma borboleta atinge as estrelas.
Portanto, vamos cuidar hoje, das crianças e jovens, com consciência, com amor!
Luiza Maria Alves de Oliveira e Oliveira
Psicóloga do Instituto Quanta.
Paulo HR Monteiro, prof.
Filósofo da Astrolabium Educacional
Luiza Maria Alves de Oliveira e Oliveira
Psicóloga clínica
Atendimento a pais, crianças, jovens e adultos.
Consteladora Familiar
Orientação vocacional e reorientação de carreira.
Instituto Quanta
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