De irmãos a herdeiros; da fraternidade à batalha declarada
Hoje, diante de uma semana muito produtiva, ainda que fugaz e exaustiva, a tarde fria, a quase ausência de voz , a solitude e o aconchego dos cobertores, permitiram-me fazer uma imersão profunda nos meus mais dolorosos, intrigantes, ousados, porém respeitosos pensamentos.
E eis me aqui, caros leitores, pronta para compartilhar , algumas idéias com vocês.
Ah, se hoje eu tivesse meus avós vivos! Jamais perderia a oportunidade de fazer a eles a seguinte pergunta ( respeitando amorosamente a posição de neta):
- ” Como gostariam que a casa, o patrimônio de vocês fosse dividido entre seus 4 ou 6 filhos? Já pensaram em conversar com eles sobre vender tudo e comprar uma casa menor e aconchegante para vocês, queridos avós? O restante poderiam (em vida) dividir com eles ou, melhor ainda, usufruir deste dinheiro em prol da saúde, do lazer (viajar, conhecer pessoas, buscar autoconhecimento), da longevidade, da boa e merecida qualidade de vida de vocês, que tal?”
Certamente alguns dos meus avós diriam no ímpeto:
- “Mas por que esse absurdo agora, menina?”
Eu (nos dias atuais) “atrevidamente” responderia:
- “Oras, tudo isso não nos custou nenhum esforço, nem dinheiro, nem nada! Por que nos dar algo que lhes custou? Tradição? Herança? Ah, já sei! Isso faz parte da nossa cultura há tempos, certo?”
Ah, meus avós! Ah, meus pais! Quando vocês (na melhor das intenções, eu sei) optam por deixar isso ou aquilo para os seus filhos, eles prontamente saem do papel de irmãos e assumem o papel de bestas (salvo raras exceções) e uma batalha é anunciada; eles serão capazes de lutar entre si por algo que não lhes custou nada, em absoluto.
Seria petulante (mas, por amor) a ponto de dizer:
“- Vocês nos amam? Têm amor incondicional aos seus filhos e netos?” –
posso perceber o olhar de plena afirmação de todos –
” – Sim, amamos.”
” – Então, não nos deixe nada além da educação, dos princípios, dos valores, da honra, do orgulho de seus legados. Já nos possibilitaram a dádiva maior: a VIDA (apesar dos percalços, é o maior presente, é o caminho para a nossa evolução).
Diria (sugeriria) sim, a cada um, que vendessem tudo de material que construíram e usufruíssem consigo mesmos!
Comprassem uma casa simples, fossem conhecer praias, outros países, investissem em si próprios, aproveitando os seus anos de esforço, trabalho e dedicação.
Ratificaria, com extremo amor e gratidão: “- Não nos deixem nada.”
E concluiria, para que entendessem bem o que dantes (na melhor das intenções ) não pensaram:
-“Se assim o fizerem, a FAMÍLIA irá se perpetuar. Cada um de nós irá viver do que conseguiu e aremos esse ensinamento adiante.”
Enfim, é fato que famílias têm sido esfareladas quando o assunto é divisão de bens. E isso dói profundamente. Sempre disse ao meu pai: “dê a mim a oportunidade de estudar, “apenas”.” E sou grata por isso. Percebo que em quase todas as situações de partilha de herança, os maus filhos nada merecem e os bons, geralmente, não precisam ou são aqueles capazes de ceder muito.
O que fica entre as cobertas agora, além de algumas lágrimas, é a certeza de que a mulher escritora anexa algo a mais no seu legado pessoal, ao mesmo tempo em que, a mulher mãe procura dia-a-dia entregar valores, princípios, amor e educação a essas duas criaturas (que me foram emprestadas) lindas com a gratidão de que esse laço fraterno permanecerá. E não se enganem, mas tenho muito trabalho a fazer e o faço com prazer e gratidão.
Aos meus pais, digo que vendam tudo e vistam esse texto. Já me deram muito!
Paz & Bem!
Gratidão aos meus ancestrais!
Até breve! Até muito breve.
Com o amor de sempre,
Lívia Maria Baêta de Paula Jesus