Estive eando pelo antigo mundo da música dos meus pais. Viajei nesses momentos pelas fantasias da criança que fui. Era época de pegar arinhos e soltá-los dez minutos depois, foi época de brincar na rua descalço. Jogar futebol e a bola era de meia. E aí o tempo ou, um pouco. Tínhamos quinze anos, e começávamos ir ao clube dançar. Íamos, porque já tínhamos direito de adentrar ao Cine Regina à sessão das quatorze horas. Trocávamos revistas, e adorávamos aqueles faroestes. Quando nos sentávamos perto das meninas bonitas do cinema e nossas mãos tocavam ligeiramente a mão delas era um frenesi de emoções. Nos bailes chegávamos na presença dos pais e perguntávamos se a filha deles aceitaria dançar conosco. Assim, o tempo foi ando e crescemos, nos formamos, cada um de nossos amigos trilhou o seu próprio caminho. Nos tornamos amigos tão distantes tal qual a terra está distante de outros planetas. Não se iludam, entretanto, em cada canto desse próprio desencanto é certo que estamos sempre unidos. Cada um de nós, com certeza, hoje mais velhos, em nossas casas, com nossos filhos, certeiramente em uma quarta-feira tristonha e chuvosa, escutando nossas músicas, lembramos certeiramente uns dos outros, quanta saudade, quanto amor naquela primeira dança, quanta alegria, éramos jovens.
Silvio Lopes de Almeida Neto