Frio, café, água e um sofá carmim.
A cor carmim é a cor imperial. É o vermelho na sua profunda intensidade. E cá estou eu sentada nesta preciosidade diante de um cenário onde observo as pessoas com a minha intensidade extravagante.
Pois é, caros leitores, o artigo de hoje será atípico ( pelo menos diferente dos que me lembro de ter postado nesta coluna).
Mal sei o que vou falar. Entretanto, sentada no sofá carmim tenho o privilégio de assistir a um espetáculo, logo não faltarão narrativas.
Este casal ao meu lado está em uma ferrenha e calorosa discussão. Penso que ele pediu o término e ela insiste, implora por uma chance.
“Faço tudo por você!” – disse a morena.
Oras, menina! Se fizer tudo para que ele te ame e não conseguir? Só restará não fazer mais nada. Aceite. Olhe para frente. Não suplique, tampouco solicite amor e ternura de maneira tão esforçada e inútil. Quiçá, ali adiante conseguirá tudo isso e muito mais sem forças de imposição.
Afinal de contas, sentimentos são sempre uma caixinha de surpresas: boas ou ruins. Lembrei-me de Drummond na famosa Quadrilha:
” João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.”
Outra cena! Quatro jovens meninas registrando momentos através de selfies. Não as julgo. Gosto também.
No entanto, o café já esfriou.
Que desafio viver em sociedade, concordam, caros leitores? Por vezes, sinto-me acorrentada às normas e regras que (se não me atento) tornam a minha essência volátil. A nossa personalidade, contudo, sempre permanece. Mas a essência é subjetiva, é mistério é a parte de nós que nos faz autênticos, donos de nós, é o que nos torna incríveis, ainda que não “aceitos”. É preciso preservá-la, ainda que seja dito por aí que mister são as aparências.
Logo, para quê saborear o café, se podemos ter as fotos perfeitas para as muitas curtidas que são medidoras
“infalíveis” de aceitação?
Agora, volto os olhos para mim. Falando em aceitação, não sou louca (não ao ponto) de me aceitar completamente. Violência tamanha, uma vez que isso inibe o meu crescimento, as minhas metamorfoses, a coragem de arriscar, de ir além, de suplantar esse espetáculo raso a que assisto e ousadamente julgo. Não sou isenta de pecados, ninguém é.
Sozinha no sofá carmim, também sou observada, julgada e certamente citada nas conversas. O único equívoco é se pensam que não tenho uma companhia aqui. Pois tenho. A minha solidão. Sim, ela que me entrega ferramentas e bases sólidas para ter a coragem de enfrentar o fato de não estar “no padrão” e a impressão de ser vista como um NADA, ainda que PLENA de um quase TUDO.
O café acabou.
Despeço-me deste curioso e corriqueiro espetáculo, assim como do sofá carmim na certeza de que não sou a mesma mulher de minutos atrás. Algo está incrivelmente transformado e sinto-me grata por isso.
Até breve! Até muito breve!
Do meu ❤️ para o de vocês
Lívia Baeta